Morrer para recomeçar

Por: Gisele Resende


O velório já havia começado todos se encontravam na sala ela preferiu realizar o final de mais um ciclo naquele lugar, convenceu-se que ali as lembranças eram mais fortes. A televisão o velho sofá surrado afundado de tanto se deitarem e o lustre em forma de castiçal, presente de casamento da tia Lindalva. Enquanto ia se penteando passando o batom e fechando o zíper do vestido, no quarto, escutava o burburinho as falas baixinhas, mas sua audição era tão precisa que ouvia tudo: Por que será que terminou assim? Em algum canto da sala alguém pronunciava...

Não se deixou entristecer foi andando devagar encima do seu melhor salto alto fez questão de usar combinando com a sua boca vermelha, boca de quem queria agora devorar o mundo sem nenhuma cerimônia. Desejava chegar à sala apenas sem medo, a morte realmente o levou agora queria encarar a vida.

E assim chegou causando impressão. Chegou para acompanhar seu libertar por cada peça que construiu a trajetória da sua vida. Resolveu fazer um leilão de tudo que havia adquirido durante anos de casamento, a relação acabou já não servia mais queria renascer e para isso tinha que matar e morrer. Foi assim que teve a ideia de se desfazer de tudo e como num velório se despedir. Cada caminho de mesa, prato, talher e até o tão falado lustre que por anos ficara pendurado no teto iriam descer e ganhar uma novo endereço, assim como ela. Ao terminar já havia enterrado todos os fantasmas, fechou a casa desceu a rua e saiu para nunca mais voltar. Agora era apenas a mulher dos sapatos vermelhos.


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