Uma alma cativante, Renato Resende (meu pai):



Nascido em 24 de março de 1936 em São Vicente de Paula, cidade de Araruama. Filho de Florípedes e Antenor, meu pai teve dez irmãos. Com dezessete anos de idade chegou à cidade do Rio de janeiro para servir ao exercito, porém não conseguiu se alistar. Cresci ouvindo as estórias dele, cresci vivendo as estórias do meu pai. Uma delas era como aprendeu a cortar cabelo, começou sua vida profissional servindo café, depois como barbeiro. Dizia que treinava com os irmãos à sombra de um pé de arvore, aonde os chamavam para “aparar” a cabeleira. Assim como as arvores, sua vida deu muitos frutos. Meu pai foi um exímio cabeleireiro a participar de concursos, na época, em grandes hotéis. Na década de sessenta, cabelo era arte. Colorir, pentear era artístico. Modelos, artistas, mulheres sempre lindas. Este era o ambiente do meu pai, de beleza. E como alegria não combina com tristeza sempre a sorrir, a gargalhar. Amante da boemia, dos ternos e dos chapéus. Esse foi um dos cara mais elegante que conheci na vida... Não tinha estudo apenas o primeiro grau incompleto, mas sua assinatura era métrica e singular. Impressão de alguém marcante, de alguém que iria se posicionar na vida. E se posicionou. Seu salão na Rua Haddock Lobo, Tijuca era um espaço onde a mulherada ficava a vontade. Muita descontração, muita satisfação.
O ambiente da minha vida desde muito criança foi o salão de beleza, desde pequenina sempre fazendo as unhas passando o dia de sábado com as manicures entre esmaltes e hidratações no cabelo. Sempre vivenciei o carinho de todos naquele lugar, sempre vivenciei a alegria dos funcionários com o meu pai. Festa!

Dentre todas as estórias algumas ficaram marcante; como ele personalizando o cabeleireiro gay conversando com as clientes. Falava que a arte de ser cabeleireiro encontrava-se com a psicologia, dizia: “Ser cabeleireiro, é ser psicólogo. A mulherada gosta de ser ouvida”. Há quem ia ao salão apenas para conversar e lavar a cabeça, se distrair.
Um dos fatos mais marcantes foi quando uma cliente ao adentrar o espaço começou um dos diálogos mais alegre que testemunhei:

Cliente: “- Renato, hoje eu vim me depilar...”.
Ele: “Virilha cavada ou normal?!”.
Cliente: “Cavada.”
Ele: “Esta é a minha filha caçula, Gisele.”.
Cliente: “Você sabe fazer filho bonito, hein...” E todos nós caímos na gargalhada.

Naquela época brincava-se muito e o politicamente correto não havia invadido nossas vidas. A cliente era uma grande atriz e comediante e todas as vezes que chegava ao salão, os dois faziam um show à parte. Uma das primeiras lições que aprendi com ele:

Contra um sistema falido e hipócrita um dos maiores atos de rebeldia é ser alegre e integro. É ser cativante!

Comentários

  1. Olá Gisele, minha boa Amiga,
    Que saudades! Espero que esteja tudo bem com você
    e suas filhas que devem estar umas senhorinhas.
    Adorei ler sobre as memórias de seu pai, um génio para a época e uma pessoa muito especial.
    Um beijinho e, se puder, me dê uma palavra. Ficaria muito feliz.
    Tenha um bom domingo.
    Ailime

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    1. Ola Ailime consegui ver agora o seu comentario. Fiquei muito feliz. Que bom q gostou do texto. Um grande abraço.

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