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Mostrando postagens de 2015
Nada de Baunilha: Por: Gisele Resende A moça parecia ser frágil com sua carinha de flor, mas carregava uma multidão de pensamentos. Nasceu com bronquite, mas se curou na batucada da vida tinha ginga nas cadeiras e possuía um andar de matar qualquer malandro de desejo, mas a moça era de respeito. Passava o carnaval na Bahia fã da Claudinha, mas preferia a Ivete diva do seu coração. Tentava fazer dieta, mas não conseguia comer sem feijão.  Não gostava de palavras ao vento, mas sim do vento despenteando o seu cabelo. Gostava do certo e do errado,  dos mistérios da vida. Carregava todas as Marias em si, já tinha sido mocinha e bandida. Santa e meretriz porque a moça era feliz, não ligava para o disse me disse da rapaziada. Sambava até o chão e vivia repetindo: Hoje, baunilha não!
O BONDE 70: Por: Gisele Resende Isabel estava próxima de completar 90 anos, mas, contrariando o dito popular de que quando envelhecemos voltamos a ser criança, não se sentia nada bem. Sentia-se como uma pedra atravancando o caminho, sentia um peso enorme impedindo-a de olhar ao redor esquecendo-se de viver. Nasceu com um pouquinho mais de 10 meses de gestação, pós-termo, talvez por isso gostasse tanto do tempo e não tivesse pressa. Aprendeu a ser velha de tanto saber esperar, e assim adorava contar as coisas para passar as horas tendo como melhor companhia uma bolsinha de dinheiro com umas poucas lembranças: um par de brincos envelhecido, sua identificação da época do trabalho como funcionária pública e seu dinheiro, que mesmo pouquinho, não podia deixar de estar lá, para contar as notinhas... A cada momento de nostalgia não cansava de falar para toda geração:  – Eu já andei de bonde, sabia? O bonde 70. Ah! Fui da época do bonde... E, assim lá ia ela, por infinitas estórias conta
CONTO DE AREIA DE MARIA TEREZA: Por: Gisele Resende Tereza que era Maria também, mas muitas vezes preferia ser só Tereza, desde criança, foi dada a uma fraqueza pulmonar. Sua aparência era franzina, o seu jeito de engolir o ar como quem devora o vento fazia com que seus pais se mantivessem em permanente estado de preocupação. O que seria dessa menina? Por quantos ventos fortes passaria e quantos a derrubariam? Sempre pensando em sua resistência faziam o melhor, ou o que achavam melhor para fortalecer seu ânimo: limpeza da casa, alimentação regrada, vitaminas, gemadas, garrafadas e bastante mingau de fubá como se de grão em grão o pulmão pudesse se encher de sangue vivo. A benzedeira, essa foi o último recurso. Cansados de tantas crises de bronquite, do vai-e-vem do Hospital e das injeções de adrenalina, apelaram para os Santos. Tanta reza e ladainha que no final saíam com a certeza do dever cumprido, mas por mais uma noite de lua posta no céu, lá estava o chiado no peito da menina

Morrer para recomeçar

Por: Gisele Resende O velório já havia começado todos se encontravam na sala ela preferiu realizar o final de mais um ciclo naquele lugar, convenceu-se que ali as lembranças eram mais fortes. A televisão o velho sofá surrado afundado de tanto se deitarem e o lustre em forma de castiçal, presente de casamento da tia Lindalva. Enquanto ia se penteando passando o batom e fechando o zíper do vestido, no quarto, escutava o burburinho as falas baixinhas, mas sua audição era tão precisa que ouvia tudo:  Por que será que terminou assim? Em algum canto da sala alguém pronunciava... Não se deixou entristecer foi andando devagar encima do seu melhor salto alto fez questão de usar combinando com a sua boca vermelha, boca de quem queria agora devorar o mundo sem nenhuma cerimônia. Desejava chegar à sala apenas sem medo, a morte realmente o levou agora queria encarar a vida. E assim chegou causando impressão. Chegou para acompanhar seu libertar por cada peça que construiu a trajetória