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Mostrando postagens de novembro, 2015
Nada de Baunilha: Por: Gisele Resende A moça parecia ser frágil com sua carinha de flor, mas carregava uma multidão de pensamentos. Nasceu com bronquite, mas se curou na batucada da vida tinha ginga nas cadeiras e possuía um andar de matar qualquer malandro de desejo, mas a moça era de respeito. Passava o carnaval na Bahia fã da Claudinha, mas preferia a Ivete diva do seu coração. Tentava fazer dieta, mas não conseguia comer sem feijão.  Não gostava de palavras ao vento, mas sim do vento despenteando o seu cabelo. Gostava do certo e do errado,  dos mistérios da vida. Carregava todas as Marias em si, já tinha sido mocinha e bandida. Santa e meretriz porque a moça era feliz, não ligava para o disse me disse da rapaziada. Sambava até o chão e vivia repetindo: Hoje, baunilha não!
O BONDE 70: Por: Gisele Resende Isabel estava próxima de completar 90 anos, mas, contrariando o dito popular de que quando envelhecemos voltamos a ser criança, não se sentia nada bem. Sentia-se como uma pedra atravancando o caminho, sentia um peso enorme impedindo-a de olhar ao redor esquecendo-se de viver. Nasceu com um pouquinho mais de 10 meses de gestação, pós-termo, talvez por isso gostasse tanto do tempo e não tivesse pressa. Aprendeu a ser velha de tanto saber esperar, e assim adorava contar as coisas para passar as horas tendo como melhor companhia uma bolsinha de dinheiro com umas poucas lembranças: um par de brincos envelhecido, sua identificação da época do trabalho como funcionária pública e seu dinheiro, que mesmo pouquinho, não podia deixar de estar lá, para contar as notinhas... A cada momento de nostalgia não cansava de falar para toda geração:  – Eu já andei de bonde, sabia? O bonde 70. Ah! Fui da época do bonde... E, assim lá ia ela, por infinitas estórias conta
CONTO DE AREIA DE MARIA TEREZA: Por: Gisele Resende Tereza que era Maria também, mas muitas vezes preferia ser só Tereza, desde criança, foi dada a uma fraqueza pulmonar. Sua aparência era franzina, o seu jeito de engolir o ar como quem devora o vento fazia com que seus pais se mantivessem em permanente estado de preocupação. O que seria dessa menina? Por quantos ventos fortes passaria e quantos a derrubariam? Sempre pensando em sua resistência faziam o melhor, ou o que achavam melhor para fortalecer seu ânimo: limpeza da casa, alimentação regrada, vitaminas, gemadas, garrafadas e bastante mingau de fubá como se de grão em grão o pulmão pudesse se encher de sangue vivo. A benzedeira, essa foi o último recurso. Cansados de tantas crises de bronquite, do vai-e-vem do Hospital e das injeções de adrenalina, apelaram para os Santos. Tanta reza e ladainha que no final saíam com a certeza do dever cumprido, mas por mais uma noite de lua posta no céu, lá estava o chiado no peito da menina